Esporte

Sevilla FC: Sampaoli, no MARCA: “Errei em ir para o Sevilla, o clube estava explodindo… mas me senti em dívida”


Jorge Luis Sampaoli Moya (Casilda, Argentina, 1960) não costuma dar muitas entrevistas. Muito pouco. Hoje, reaparece em MARCA depois de duas etapas turbulentas em Sevilha e Flamengo. Agora, ele está sem equipe e fala conosco de sua casa no Rio de Janeiro, onde reside enquanto encontra seu próximo projeto.

Perguntar. Ele está sem equipamento. O que tem chamado sua atenção no futebol ultimamente?

Responder. Que o Manchester City perdeu para o Real Madrid foi difícil para mim digerir. O Madrid faz os outros descerem ao seu nível, se forem equipas superiores a ele. Sofri muito nesse jogo, porque estava com Pep e Juanma Lillo. Guardiola tem mais dificuldades nos playoffs, mas ainda é o número um do mundo, mesmo tendo os melhores jogadores. Mas gosto de outros técnicos como Mchel, Mikel Arteta, Xabi Aonso, De Zerbi, Xavi Hernández… Eles conseguiram tirar vantagem do Pep, mas com marca própria.

Assisto muitos jogos, mas hoje em dia tem pouco futebol

P. Que futebol você assiste na TV?

R. Não assisto muito futebol porque não há muito futebol, mas assisto muitos jogos. Nunca houve tantos jogos na vida, mas os termos devem ser diferenciados. Vejo muito o City, o Girona do Michel, o Arsenal do Arteta, o Bayer do Xabi Alonso… Times que têm mais liberdade para jogar coletivamente. Os demais, acima de tudo, simplesmente competem. Hoje em dia existe uma competição como nunca antes, mas isso não significa que o futebol que se produz seja atrativo.

P. Você teve que sair do Sevilla e depois foi para o Flamengo. Qual é o seu presente?

A. Decidir onde estou mirando. Recebi algumas ofertas, mas estou tranquilo. O negócio do futebol avança a uma velocidade que não corresponde à velocidade do ser humano. Às vezes ficamos confusos e entramos naquele ritmo que não é bom. Sinto que agora as instituições estão a visar muitos jovens treinadores. Com exceção de José Mourinho, houve pouco compromisso com treinadores mais veteranos para a próxima temporada.

P. Você concorda em treinar na América do Sul?

R. Eu aceitarei. Eu também gostaria de dirigir na Europa. Ou em qualquer lugar do mundo onde exista um projeto sério e duradouro. No Brasil a loucura é excessiva, e a cada três jogos expulsam um treinador. Na Europa percebo um pouco mais de paciência.

P. A política influencia? Milei na Argentina e Lula no Brasil, mas a loucura é a mesma em todos os lugares.

R. A loucura no futebol é global. O sistema faz com que todos nós pareçamos mais uns com os outros a cada dia. Uma supercultura destrói a identidade das pequenas culturas. É provável que a América do Sul se concentre ainda mais. Há muita urgência em vencer e jogar não é valorizado.

É dramático que um treinador de jovens tenha adquirido a mesma obrigação de vencer que um treinador da Primeira Divisão.

P. Como você vê o futebol juvenil atual?

R. Ninguém mais fala sobre o jogo. Você tem que vencer, não importa o que aconteça. É dramático que um treinador de jovens tenha adquirido a mesma obrigação de vencer que um treinador da Primeira Divisão. Deveriam ser objetivos totalmente diferentes. Estas posições educam… para pior. E transformam o perdedor em perdedor para o resto da vida. Depois, tentam até marginalizá-lo socialmente. Ninguém quer ficar com ele. O sucesso torna tudo complexo.

P. Você não teve um bom desempenho nas duas últimas equipes: Sevilla e Fla. Você está sendo marginalizado por isso?

R. Pode ser. Eles medem você pelos dados da sua última equipe. No Fla conseguimos 70% dos pontos, mas não foi suficiente. No Brasil… se não ganhar, tem que sair. Perdemos a final e tivemos que sair (o Fla foi derrotado pelo São Paulo na final da Copa do Brasil). Perder nos ensina, ainda mais se tivermos tempo para rever nossos erros.

P. Antes do Fla, você estava prestes a ser demitido do Sevilla.

R. O presidente Castro e Del Nido Junior me pediram para ajudar. Não precisava ir para lá, com o time em declínio e sem elenco adequado. O Sevilla estava no rebaixamento e em último lugar na Liga dos Campeões. Depois levamos o time para a Liga Europa e eles acabaram vencendo com o Mendilibar.

P. Você se arrepende de ter ido a Sevilha?

R. Saí do Marselha porque não concordava com a direção, mas a equipe de lá já estava montada. Fui para o último clube, o Sevilla, e admito que errei em ir, mas os dirigentes foram muito insistentes e adorei muito o clube desde a minha primeira fase. Ele sentia uma dívida com a instituição e com a cidade. Os dirigentes me disseram que haveria mudanças no mercado de inverno, mas isso nunca aconteceu e fiquei no meio do nada.

Eu queria sair antes, mas o clube não me permitiu por contrato.

P. Você foi vítima das discrepâncias entre a presidência e Monchi?

R. O clube estava explodindo. Não teve nada a ver com 2017 (sua primeira etapa). O clube navegou por tempestades políticas todos os dias. Você pode ver tudo o que aconteceu nesta temporada chegando. O clube lutava contra o rebaixamento e tudo acabou incomodando. Tínhamos esperança de renovar o plantel no Natal e isso não aconteceu. Eu queria sair antes, mas o clube não me permitiu por contrato. Tentei fazer uma cirurgia para resolver muitas coisas na equipe, mas não deixaram.

P. Como você interpretou mais tarde a saída de Monchi?

R. Algo lógico pela discrepância com quem está no topo, presidente e vice-presidência. Não há mais.

P. E a renovação de Jesús Navas? Não me diga que não foi estranho…

R. Não estou lá agora para avaliar isso. Jess é uma profissional impressionante. Um daqueles jogadores de futebol que dá prazer treinar porque resolve as situações futebolísticas com muita facilidade. Ele tem criatividade para resolver cada treino que propomos.

P. Você poderá retornar à Liga?

R. Certamente sim. Gosto da LaLiga. Da minha primeira etapa, em 2017, até agora, acho que caiu bastante economicamente. Mas é um ótimo futebol.

Gosto da LaLiga, mas desde a minha primeira fase, em 2017, até agora, penso que caiu muito em termos económicos.

P. Você mora em Ro (Brasil). Por que?

R. Me dei muito bem no Santos, no Mineiro e um pouco no Flamengo. Meus filhos mais novos nasceram no Brasil, embora meu companheiro seja chileno, e já nos adaptamos ao Rio.

P. Como você se sentiu em relação ao público argentino após sua saída da Seleção?

R. Eu cuido do que é meu. Ao longo da minha carreira, sempre soube que não poderia cuidar das alegrias e tristezas do público. Nem quando ganhamos nem quando perdemos. Do contrário, estaria comendo o filme que o sistema lhe propõe. Esse foi um processo complicado. A equipe não estava tão armada. Fizemos esforços para montá-lo, mas isso não aconteceu. As pessoas acreditaram que eu poderia mudar a realidade do futebol argentino, mas não foi o caso. Não tive tempo suficiente e tenho certeza que cometi alguns erros. Tive tempo para me censurar. Entendo que quando as coisas não vão bem é preciso encontrar os culpados. Basta-me censurar-me, na minha intimidade, pelo que é meu. Nunca tive necessidade de falar sobre ninguém. Um amigo meu diz que o futebol é um esporte que morre todo fim de semana e renasce a cada três dias. Os melhores treinadores são aqueles que lidam com o renascimento.

As pessoas acreditaram que eu poderia mudar a realidade do futebol argentino e não passei por isso

P. Leo ajudou você?

R. Messi sabia o que havia, com um processo complicado… e fez o que pôde.

P. Quatro anos após sua saída, você se tornou campeão mundial. Você se sente parte disso?

R. Procuro fazer o melhor possível em todos os lugares, com muita paixão e profissionalismo. Então, há muitos fatores no futebol que estão relativamente fora do seu controle. Um dos meus problemas na Seleção Argentina foi não ter conseguido trazer o Juanma Lillo. Ele teria resolvido muitas coisas para mim com sua experiência. A Argentina foi um incêndio e fui com muito entusiasmo. E não me arrependo. mas Lillo teria me ajudado a resolver coisas que me oprimiam naquele momento.

P. Como ver o Seleccin argentino postando Messi?

R. A Argentina sempre tem capacidade para ser competitiva. Antes de chegar lá, era uma Seleção muito criticada pelo público argentino. Ele tem jogadores muito bons e esse processo o tornou muito forte como campeão.

Não consigo avaliar o mérito de Scaloni. Queria apenas ajudar um ex-jogador que estava começando a participar de um projeto e nada mais.

P. Você foi o primeiro a dar a oportunidade ao 'técnico Lionel Scaloni'. Como ele era na comissão técnica do Sevilla?

Resposta: Não posso me apegar a esse mérito. Queria apenas ajudar um ex-jogador que estava começando a participar de um projeto e nada mais. Ele, na minha comissão técnica, participou mais do que tudo aproximando-se do jogador.

P. Você ficou surpreso com o que fez?

R. Tudo foi muito rápido e ele soube se consolidar numa situação favorável.

P. A Argentina voltará a dirigir na Primeira Divisão?

R. Eu não nomeio meu destino. Eu quero um projeto onde possa durar alguns anos. Três ou quatro anos como nunca estive em um lugar

P. E para o Brasil?

R. Não sei. O Brasil é a Liga mais exigente em que já participei. 10.000 vezes mais que o espanhol, por exemplo. É disputado a cada dois dias, tem que ganhar sempre, sempre, sempre… e mais no Flamengo. Há uma grande procura popular nos aeroportos, nos hotéis, tudo o que se vive é muito intenso, principalmente ser autocarro. O Fla é o maior clube do mundo, com 45 milhões de torcedores, você não pode perder um único jogo.

O Brasil é a Liga mais exigente em que já participei. 10.000 vezes mais que os espanhóis

P. Você dá ao Brasil a chance de derrotar a Argentina na Copa América?

R. O Brasil vai passar por momentos difíceis, é uma nova Seleção e a Argentina está muito consolidada. No Brasil quebraram processos como se fossem clubes. A Argentina fez exatamente o oposto e isso fica evidente.

P. Você é um técnico muito apaixonado e até agressivo na banda. Você acha que isso assusta o torcedor?

R. Pode ser. Gero muitas expectativas em cada lugar que passo. E então correu muito bem, bem ou menos bem. Mas na minha idade não vou mudar mais. Eu gostaria, mas não sei se consigo. O futebol é um jogo que aprendemos desde crianças. Para jogar, sentir e viver. Não posso modificar a minha paixão, mas talvez possa modificar os excessos da paixão. Pensei nisso muitas vezes e trabalhei nisso.

P. Como você acha que os líderes o veem? Muito rebelde pela causa

R. Como um treinador que aposta muito no jogo ofensivo, no jogo posicional, um técnico que evoluiu. Antes eu era muito Bielsista e agora mais Guardiolista ou Lillista. Quando conheci Lillo, comecei a modificar mais minha ideia de ataque.

Quando conheci Lillo, comecei a modificar mais minha ideia de ataque

P. Qual a diferença entre o Bielsismo e o Guardiolismo?

R. Basicamente, o Bielsismo é um conceito de ataque mais direto. Ele quer chegar mais rápido à zona final do campo. No Guardiolismo, com o chamado jogo posicional, os jogadores têm uma certa liberdade. É mais associativo. Há mais convivência no centro do campo. O bielsismo é mais direto e na defesa é um contra um. Lillismo é mais zonal na defesa.

P. E qual deles te convence mais?

R. Na França, com o Marselha, lutamos pela Liga com um jogo posicional maravilhoso.

P. Por que você menciona tanto Juanma Lillo?

R. Juanma é auxiliar técnico, não só em campo, mas também nos treinos. Isso abre o caminho para você em muitas coisas. e sem aparecer publicamente. Ele humaniza muito o futebol, que se tornou tão desumanizado. Com muita mediocridade. A professora é irritante. Não aceito. Os proprietários não querem professores. Há muita violência e confronto, como na sociedade

P. As redes sociais mataram a privacidade do vestiário?

R. As redes superaram o futebol. O jogador de futebol não presta mais atenção ao vestiário, só se preocupa com o que as redes falam sobre o vestiário. A luta dos egos é muito grande, mas não é presencial e sim através das redes. É algo incontrolável agora.

O jogador de futebol não presta mais atenção ao vestiário, só se preocupa com o que as redes falam sobre o vestiário.

P. Você é um pouco eremita. Você não o vê em festas, na mídia, ele não dá entrevistas… Não faria sentido ele estar comentando na TV, por exemplo?

A. (Pensa cerca de cinco segundos). Não, honestamente não. Na verdade, sou um pouco eremita e é por isso que me dou tão bem com Juanma. Eu me construí por dentro, meu negócio é estar ligado à grama pura.

P. Mas não se expor penaliza você no mercado…

R.S, claro. Isso é uma realidade, mas estou velho demais para mudar.

Na verdade, sou um pouco eremita e é por isso que me dou tão bem com Juanma Lillo

P. Dnde se ve dentro de 10 aos?

R. Tomara que num futebol diferente, com uma liderança diferente… Mas isso é difícil. O futebol está se tornando cada vez mais de curto prazo. Mas é a minha paixão e continuaremos assim. É difícil desistir do que você ama.





Source link

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Botão Voltar ao Topo